85% dos moradores do RJ apoiam aumentar pena para homicídio e 72%, apoiam enquadrar estas organizações como terroristas.

FOTO: AgenciaBrasil
Uma pesquisa do instituto Quaest, divulgada nesta segunda-feira (3), mostra que a maior parte dos fluminenses apoia o endurecimento das leis penais contra o crime organizado. De acordo com o levantamento, 85% dos moradores do estado do Rio de Janeiro defendem o aumento da pena de prisão para condenados por homicídio a mando de organizações criminosas, enquanto 72% apoiam que essas facções sejam enquadradas como organizações terroristas.
O estudo ouviu 1.500 residentes do estado com 16 anos ou mais, entre os dias 30 e 31 de outubro, com margem de erro de três pontos percentuais. A pesquisa foi realizada dias após a megaoperação do dia 28 de outubro, em que as Polícias Civil e Militar atuaram contra o Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro. A ação resultou na morte de 121 pessoas, sendo quatro policiais — dois civis e dois militares.
Além da segurança pública, a pesquisa abordou outro tema polêmico: a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou em uma coletiva na Indonésia que “traficantes são vítimas dos usuários de drogas”. A frase, amplamente criticada, levou o presidente a publicar uma retratação nas redes sociais, alegando ter sido “mal interpretado”.
Pela primeira vez, a Quaest avaliou como a população reagiu à fala. Segundo os resultados, 61% dos entrevistados disseram já conhecer a declaração, 38% souberam dela apenas ao responder o questionário, e 1% não soube opinar. Entre os que tomaram conhecimento, 60% consideram que a fala reflete uma opinião sincera do presidente, enquanto 33% acreditam que se tratou de um mal-entendido.
OPINIÃO:
O resultado da pesquisa evidencia um contraste entre o discurso do presidente e o sentimento predominante da população fluminense. Em um momento de forte comoção social, marcado por episódios violentos e crescente insegurança, o apoio maciço a medidas mais duras contra o crime revela que o eleitorado fluminense busca respostas concretas e punitivas.
A declaração de Lula, ainda que pareça ter sido uma tentativa de discutir a complexidade do tráfico sob o ponto de vista da demanda, acabou soando leniente para parte da sociedade. O fato de 60% acreditarem que foi uma opinião sincera indica que muitos veem coerência na fala, mas não necessariamente concordam com ela. Em contrapartida, o apoio de 85% e 72% às medidas mais severas mostra que a percepção de insegurança sobrepõe qualquer abordagem mais sociológica ou humanitária do problema.
Politicamente, os dados funcionam como um alerta para o governo federal. Em um estado historicamente vulnerável à ação de facções criminosas e que convive com índices altos de violência, a população tende a rejeitar discursos que soem relativizadores e apoiar políticas de enfrentamento direto. Isso abre espaço para forças políticas de perfil mais conservador ampliarem seu diálogo com o eleitorado fluminense, caso o governo não consiga equilibrar sua narrativa entre direitos humanos e segurança efetiva.
Analistas apontam que a pesquisa da Quaest reforça uma tendência: o tema da segurança pública volta ao centro do debate nacional e pode ser decisivo nas eleições de 2026. A popularidade de líderes, inclusive o próprio presidente, pode ser afetada não apenas por políticas econômicas, mas também pela forma como se posicionam diante da criminalidade organizada e da violência urbana.
Deixe um comentário