Nordeste, com menos recursos de saúde mental, sofre com subnotificação e vulnerabilidade social.

Entre 2023 e 2024, 143 crianças, adolescentes e jovens entre 10 e 19 anos morreram na Bahia em decorrência de lesões autoprovocadas — valor que coloca o estado como o que registra os piores índices do Nordeste nessa faixa etária. Esses dados foram levantados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com base nas notificações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde.
Os registros devem ser feitos por profissionais de saúde que atendem adolescentes nessas circunstâncias, seguindo protocolo de notificação obrigatória.
O que dizem os especialistas
De acordo com o pediatra e vice-presidente da Sociedade Baiana de Pediatria, Cefas Gonçalves Pio de Oliveira, nem toda autolesão implica intenção suicida imediata. Contudo, sem diagnóstico e acompanhamento psicológico adequado, o comportamento autolesivo pode evoluir para tentativas de suicídio no futuro.
“Muitas vezes são atos silenciosos de pedido de ajuda. Se ignorados, o quadro pode se agravar,” alerta Oliveira.
Panorama nacional e regional: comparativos
O levantamento nacional da SBP evidencia disparidades marcantes entre as regiões do país.
📉 Panorama baiano e nordestino
Na soma regional, o Nordeste registrou 19.022 atendimentos por autolesões juvenis no período. Dentro desse total, a Bahia lidera com 143 óbitos, seguida pelo Ceará (110) e Pernambuco (88). Estados menores, como Alagoas, apresentaram números significativamente inferiores — 38 mortes — quase quatro vezes menos que a Bahia.
Especialistas alertam que, embora nem todo jovem que se automutile tenha a intenção de tirar a própria vida, a ausência de diagnóstico e acompanhamento psicológico pode levar ao agravamento do quadro. Segundo o pediatra Cefas Gonçalves Pio de Oliveira, vice-presidente da Sociedade Baiana de Pediatria, “muitas vezes são atos silenciosos de pedido de ajuda. Se ignorados, podem evoluir para tentativas de suicídio”.
📊 Comparativo nacional: Nordeste x Sudeste
O levantamento nacional evidencia diferenças significativas entre as regiões:
-
Sudeste: 46.918 atendimentos (quase metade do total nacional, região de maior concentração demográfica com 42% da população do Brasil).
-
Sul: 19.653 registros.
-
Nordeste: 19.022 registros.
-
Centro-Oeste: 9.782 registros.
-
Norte: 5.303 registros.
Embora o Nordeste tenha números absolutos altos, o Sudeste concentra mais que o dobro de casos, acompanhando também sua maior densidade populacional.
👥 População e densidade demográfica
Sudeste
-
População: ~85 milhões de habitantes (≈ 40% do Brasil).
-
Densidade: 86,9 hab/km² (a maior do país).
Nordeste
-
População: ~58 milhões (≈ 27% do Brasil).
-
Densidade: 36,4 hab/km² (bem abaixo da média sudestina).
Em termos proporcionais:
-
Sudeste → 0,55 registros por mil habitantes.
-
Nordeste → 0,33 registros por mil habitantes.
➡️ Ou seja, mesmo proporcionalmente, o Sudeste apresenta índice 66% maior que o Nordeste.
⚠️ Diferenças estruturais
-
Urbanização e pressão social
-
O Sudeste, mais urbanizado, concentra estresse competitivo escolar, social e profissional, fatores de risco para autolesões.
-
-
Subnotificação no Nordeste
-
Apesar de índices altos, especialistas alertam que o Nordeste pode ter números subestimados, já que o acesso a serviços de saúde mental é mais limitado, e muitas ocorrências não chegam a ser notificadas.
-
-
Socioeconomia e vulnerabilidade
-
Enquanto o Sudeste tem melhores indicadores econômicos, registra altos níveis de adoecimento psíquico.
-
No Nordeste, a desigualdade social e a ausência de políticas públicas eficazes dificultam o tratamento preventivo.
-
📌 Conclusão
Os números revelam duas realidades preocupantes: o Sudeste concentra os maiores índices absolutos e proporcionais de autolesões juvenis, enquanto o Nordeste, com menos recursos de saúde mental, sofre com subnotificação e vulnerabilidade social.
A Bahia, em particular, lidera os óbitos no Nordeste e reforça a urgência de políticas públicas voltadas para a juventude, com foco em diagnóstico precoce, apoio psicológico, combate ao estigma e fortalecimento da rede de saúde mental.
Deixe um comentário