O Peso do Chapéu Pontudo – Quando o Lucro Fala Mais Alto que a Verdade

07 de agosto de 2025

O Peso do Chapéu Pontudo – Quando o Lucro Fala Mais Alto que a Verdade

Chapéu pontudo, caldeirão fervendo, vassoura à porta.

Hoje, são símbolos de fantasia.
Mas em séculos passados, essa imagem foi usada como sentença — não de magia, mas de eliminação comercial.
Essas mulheres não preparavam feitiços.
Elas produziam um dos produtos mais populares e lucrativos da Europa medieval: cerveja.

Durante muitos séculos, a produção de cerveja foi uma atividade majoritariamente feminina.
Era comum ver viúvas, solteiras e donas de casa fabricando a bebida em casa,
vendendo nas portas ou nos mercados locais.
Com um caldeirão, alguns grãos e seu conhecimento ancestral, elas garantiam o sustento próprio.

Mas a prosperidade dessas mulheres não passou despercebida.
Com o crescimento das cidades, a cerveja virou um negócio altamente rentável.
E onde há lucro, há disputa.

À medida que a bebida se transformava em atividade comercial organizada,
homens começaram a se apropriar do setor, organizando guildas, associações e leis que excluíam as mulheres da atividade econômica.
Mas como afastar aquelas que sabiam fazer melhor, que dominavam a arte há gerações?

Criou-se um rótulo, um estigma.

Passaram a retratá-las como perigosas, devassas, promíscuas.
Criaram a “bruxa”.

  • O caldeirão, que antes era usado para fermentar a bebida, virou símbolo de magia obscura.
  • A vassoura, que indicava que havia cerveja à venda, passou a ser associada a voos noturnos.
  • O chapéu pontudo, que ajudava a identificar as cervejeiras nos mercados, tornou-se ridículo e ameaçador.
  • Até o gato, que protegia os grãos dos ratos, foi transformado em sinal de pacto com o mal.

A lógica era simples e cruel:
transformar a concorrente em ameaça, a mulher em bruxa,
para que o mercado ficasse livre… e o lucro intacto.

Esse teatro macabro não matou apenas sonhos.
Matou vidas.

A história registra que milhares de mulheres foram perseguidas, torturadas e executadas sob acusações de bruxaria.
Nem todas eram cervejeiras, é verdade,
mas muitas foram vitimadas por se destacarem — por saber, por fazer, por gerar renda.

E o que isso tem a ver conosco, séculos depois?

Tudo.

Porque quando interesses econômicos se unem à ignorância e ao preconceito,
o resultado é sempre o mesmo: injustiça.
E a injustiça, uma vez aceita, se repete em novas formas.

Foi assim com as cervejeiras.
Foi assim com os judeus na Alemanha nazista.
Foi assim — e ainda é — com tantos outros grupos silenciados por não servirem à lógica do lucro ou do poder.

Por isso, o Conexão Empresarial faz um convite:

Vamos aprender a discernir.
A enxergar para além das narrativas prontas.
A não aplaudir linchamentos — nem reais, nem simbólicos.
A não permitir que a ambição de poucos apague a dignidade de muitos.

O mundo já sofreu demais com o silêncio de quem sabia.
Que nunca mais o riso vire fogueira.
Que nunca mais o mercado valha mais que a vida.

E que, da próxima vez que alguém disser “é só uma bruxa”…
…você se lembre:
pode ser apenas uma mulher — ou um homem — tentando viver… e empreender.

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